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A história de mulheres que empreenderam como forma de superação

Abrir o próprio negócio rompe barreiras econômicas e sociais, além de conectar mulheres

Por Colaborou: Gabriela Maraccini
Atualizado em 17 fev 2020, 12h22 - Publicado em 23 out 2019, 13h30
Participantes do programa Women Will, do Google em parceria com a Rede Mulher Empreendedora
Participantes do programa Women Will, do Google em parceria com a Rede Mulher Empreendedora (Iara Barbosa/Divulgação)
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Sair do tráfico e do uso de drogas na periferia da zona norte de São Paulo para estudar pedagogia e vender bolos. Essa é a trajetória de superação de Dayane Priscila, de 25 anos. Mãe solo da Letícia Caroline, de 8 anos, ela viu na filha a inspiração e a força de vontade para mudar de vida.

“Meus pais sempre me deram muitas oportunidades boas, mas eu acabei tendo outras escolhas, me desviei. A vida era fácil, eu tinha dinheiro fácil, então eu acabei me deixando levar”, conta ela à CLAUDIA. “Mas eu não estava tendo nada concreto para a minha vida. A minha filha estava crescendo e tinha que se espelhar em alguém. Ela não tem pai, então eu não queria demonstrar o caminho errado para ela. Eu comecei a me inspirar nela.”

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Dayane é uma das 95 participantes da edição do Women Will, programa de capacitação do Google em parceria com a Rede Mulher Empreendedora para criar oportunidades econômicas e promover o desenvolvimento e o sucesso de mulheres ao redor do mundo, dedicada a mulheres negras, que aconteceu em São Paulo no último dia 15.

“Queremos, com esse projeto, empoderar as mulheres através de ferramentas que ajudem na liderança e na comunicação e a entender como gerenciar suas finanças pessoais, para que elas encontrem as suas próprias oportunidades econômicas, tanto abrindo seu negócio, quanto encontrando um emprego”, explica Susana Ayarza, diretora de marketing do Google Brasil

Atualmente desempregada, Dayane vê no programa uma oportunidade para alavancar a sua fonte de renda: a venda de bolos que ela mesma faz. “Depois de ouvir a história das pessoas e ter presenciado outras vivências, está na hora de sair da minha zona de conforto e tomar meu próximo passo.”

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Dayane Priscila Custódio
Dayane Priscila Custódio, de 25 anos, é uma das participantes da edição do Women Will voltado para mulheres negras (Gabriela Maraccini/CLAUDIA)

Bruna Trajano, de 30 anos, também se inspirou com o programa. Diferente de Dayane, há 3 anos ela já tem o próprio negócio, Odara Cachos & Tranças, um salão de cabeleireiro voltado a mulheres com o cabelo cacheado e crespo. Ela quer ajudar meninas, especialmente as negras, que estão passando por transição capilar. Ajuda essa que ela não teve quando mais nova.

“Quando eu tinha 16 anos, no meu primeiro emprego, eu tive um problema muito sério de racismo. Eu estava passando por transição capilar e o gerente do local onde eu trabalhava falou que o meu cabelo não estava adaptado àquele ambiente”, revelou.

Nascida no Jaraguá, em São Paulo, ela não via lugares que tratassem o cabelo naturalmente. Abrir um negócio próprio era um desejo pessoal para se curar do que já enfrentou. “Muitas vezes você vai em ambientes onde as pessoas são ríspidas, não te tratam com respeito. Elas nunca te permitem ser o que você é, o que você nasceu para ser. Você sempre tem que ser um padrão imposto por elas.”

Por isso, sentiu a necessidade de abrir o Odara Cachos & Tranças e, agora, ela quer aprimorar ainda mais o seu negócio, fazer networking, conhecer novas ferramentas digitais para, quem sabe, no futuro abrir franquias.

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Bruna Trajano
Bruna Trajano, de 30 anos, tem o próprio salão de cabeleireiros e pretende expandir seu negócio (Gabriela Maraccini/CLAUDIA)

Mudança de perspectiva

Com o objetivo de reduzir a desigualdade econômica e de gênero no Brasil, o Women Will já treinou 14 mil mulheres que não tiveram muitas oportunidades na sociedade, como, por exemplo, mulheres negras, trans, sênior e residentes de bairros periféricos. O principal foco do programa é ajudar as participantes a gerarem a própria renda, seja por forma do empreendedorismo, seja conseguindo um emprego formal.

“Nós temos muitas histórias de mulheres que se conheceram aqui no programa e construíram um negócio juntas, formaram mini redes de contato para se apoiarem mutuamente”, conta Ana Fontes, fundadora da RME. “Outro ponto importante de lembrar é que quando essas mulheres geram renda para elas, muitas saem de um ciclo de violência doméstica, porque deixam de depender financeiramente do marido”, exemplifica. Por isso, além da capacitação e da inclusão digital, o programa significa uma verdadeira mudança de perspectiva para essas mulheres.

Para escolher as 95 participantes dessa edição, a RME selecionou, de todas as inscrições, as que se autodeclaravam como mulheres negras ou pardas e que estavam localizadas em regiões menos favorecidas. “Normalmente são essas mulheres que têm menos oportunidades de trabalho e nós queríamos dar a elas novas chances”, explica Fontes.

Histórias de superação

Não só os temas das oficinas do Women Will são meticulosamente pensados, mas também quem irá ministrar as palestras – as chamadas facilitadoras. É preciso ter o cuidado de haver representatividade também nelas. “Isso é muito importante para que as participantes se sintam reconhecidas”, afirma Fontes.

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O maior exemplo disso é Ana Minuto, coach e treinadora voltada para carreira e empreendedorismo, que foi participante do programa e hoje é uma das facilitadoras. “Quando eu me inscrevi, tinha duas palestrantes negras e eu achei demais, porque nunca tinha visto algo assim”, revelou à CLAUDIA. “Isso é muito importante por conta da representatividade.”

Hoje, ela conta a sua história de superação para centenas de mulheres. Filha de uma mulher que lutou a vida inteira pelas minorias, Minuto seguiu os passos de sua mãe e hoje, através do coaching, ajuda as pessoas a empreenderem e alavancarem suas carreiras.

Ana Minuto
Ana Minuto já foi participante do Women Will e hoje é uma das facilitadoras (Iara Barbosa/Divulgação)

“Poder contribuir, hoje, é muito emocionante porque eu estudei e trabalhei a minha vida toda para isso porque eu sempre acreditei que um dia as mulheres negras fossem ter maiores oportunidades e eu estou vivendo esse momento”, declara.

Para ela, três passos são os mais importantes na hora de começar a empreender: conhecer as suas habilidades, no que você tem talento e como isso pode ajudar outras pessoas; planejamento; e, por fim, ter um objetivo claro e definido. “É preciso conhecer o seu negócio e fazer com que as suas habilidades possam agregar nele, porque quando você tem a sua habilidade e a sua competência, e soma isso ao seu negócio, não tem como dar errado”, finaliza.

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