A advogada Fabiana de Freitas se orgulha de algumas conquistas na vida. Uma delas é ter ajudado a implementar a obrigatoriedade de 120 dias de licença parental a todos os funcionários do Grupo Boticário, em 2021, e de 180 dias para as mães.
“Os filhos passam a ter o pai também mais presente, o que não é comum, infelizmente. E isso também trouxe mais equidade de gênero, porque só as mulheres saíam por tanto tempo, o homem apenas quatro dias”, comemora.
Paternidade e gravidez não podem ser um problema. Não à toa, Fabiana se lembra de quando tentou contratar uma mulher grávida de nove meses. “Ela me mostrou o barrigão e disse: ‘eu não posso, eu estou grávida de nove meses!’ E eu disse que aquilo não era um problema, queria ela no time”, relembra. A funcionária só aceitou a proposta depois de cumprir os meses de licença-maternidade.
A compreensão vem da própria experiência como mãe. No início dos anos 2000, quando ainda não trabalhava no grupo, precisava se dividir entre as viagens a trabalho e a vida pessoal em Curitiba, onde mora até hoje. “Eu viajava muito e minha filha tinha só um ano e oito meses. Eu deixava ela muito em casa sem a minha presença do que eu gostaria. Então, apesar de amar meu trabalho, fui atrás de outra oportunidade. Eu estava olhando mais no longo prazo, que era o convívio com a minha filha”.
Foi aí que partiu atrás de novas oportunidades e o Grupo Boticário a convidou para uma entrevista de emprego – e ela nem precisaria mais viajar com tanta frequência. “Estavam querendo uma pessoa com esse perfil mais de gente, e eu sempre tive um perfil muito forte de mitigação de risco”, conta. “No grupo foi muito legal a entrevista, é uma empresa muito vocacionada a pessoas. Então acho que isso foi uma coisa que deu match. Aí eu falei para o entrevistador: olha, eu tô super bem, onde estou e você tá precisando de alguém que eu não sei se sou eu. Vamos ver se a gente serve uma para outra aqui e se der certo, deu”.
O match deu tão certo que ela entrou como diretora executiva. E por lá permanece há quase 20 anos – com algumas promoções que a transformaram em vice-presidente de assuntos corporativos.
Fabiana conta que nunca teve medo de encarar nenhum novo desafio. Ainda jovem, contou com a ajuda e inspiração do pai, também advogado, para iniciar a carreira. “Meu pai sempre acreditou em mim e botou a minha bola para cima. Não havia distinção de tarefas entre mim e meu irmão, por exemplo. Eu tinha que lavar louça, ele também. Ele podia pegar o carro, eu também podia.Então não cresci com esse estigma do ‘ah, isso não é para você’. Hoje olho para trás e vejo como isso foi um facilitador para mim”.
Até por isso, a advogada buscou voos mais altos, se mudou de Passo Fundo, sua cidade dos pais, no interior do Rio Grande do Sul, para conquistar seus espaços sozinha. Não que fosse exatamente um problema: o pai a incentivava e admirava, como faz questão de ressaltar. Mas queria não ser vista apenas como a filha de um brilhante advogado. Queria ser reconhecida pelo seu próprio talento.
Partiu para Porto Alegre, onde começou um mestrado, e abriu um escritório de advocacia com um amigo. “Nessa época, o custo do mestrado era exatamente o que eu ganhava com os honorários. Então foi uma mudança de vida, precisei vender meu carro, sair de um lugar onde eu já era reconhecida, tinha clientes e até um programa de rádio, para ir atrás da minha vontade: que era me mudar para onde as coisas aconteciam”, lembra.
Deu tão certo que, em pouco tempo, o escritório contava com mais de 50 funcionários. “Eu adorava aquele trabalho! Eu sempre me pautei muito pelo que gosto de fazer. Não sabia o quanto eu ia ganhar, mas sempre tive muito isso de fazer o que eu gosto, de participar da vida das pessoas que estão ao meu redor. Eu me interesso muito por pessoas, isso é muito natural em mim”.
Mas o salário começou a desagradar. Não pelo valor em si, mas pela falta de reconhecimento. “Eu achei que não estava ganhando de acordo com que eu desempenhava. Isso ainda acontece muito no mundo feminino. Não tô falando do quanto eu ganhava, mas sim de ser incompatível com o que eu entregava. Eu consegui entender e romper com isso. Aí veio uma proposta pra mim pra uma empresa de telecomunicações em Curitiba”.
VP do Grupo Boticário
A promoção para assumir a vice-presidência de assuntos corporativos da empresa aconteceu em fevereiro de 2021, depois de quinze anos de casa. Desde então, ela lida diretamente com a área de ESG (governança ambiental, social e corporativa). Embora tenha recebido o convite com surpresa, ela já conhecia o assunto – era ela a responsável por fazer, segundo ela, a “afinação do jurídico com o Instituto Boticário” nos cargos anteriores.
“Quando eu tenho essa oportunidade de assumir a vice-presidência, eu entro aprendendo coisas diferentes, das áreas social e ambiental”
Fabiana Freitas, VP do Grupo Boticário
A empresa também divulga, há 16 anos, o seu próprio relatório de emissões de gases de efeito estufa. E, assim, auxilia os executivos a tornar mais verde toda a cadeia de produção do grupo – e a disseminar informações e treinamentos para que seus colaboradores façam o mesmo.
“Eu sempre fui muito metida, de me enfiar nas coisas, eu não fico ‘ah, não, isso aqui não é da minha área. Eu sou aquela pessoa que se espalha. Respeito muito que os outros estão fazendo, mas eu gosto de participar, de estar junto, então eu tinha bastante conhecimento dos temas”, conta. “Quando eu tenho essa oportunidade de assumir a vice-presidência, eu entro aprendendo coisas diferentes, das áreas social e ambiental”.
O projeto do qual fala com mais orgulho é o Empreendedoras da Beleza, um programa para capacitar mulheres para o mercado da beleza. Entre os cursos oferecidos estão: maquiagem, unhas, cabelos, negócio, marketing e habilidades comportamentais. Desde 2021, mais de 58 mil mulheres se formaram no programa.
“Quando assumi a vice-presidência, era um programa que tinha só 1,5 mil inscrições. Hoje, são mais de 400 mil. As mulheres fazem tudo online e é um treinamento gratuito, que rende um certificado. E é bom, eu sei porque eu fiz, me formei, sou empreendedora da beleza e maquiagem 1”, conta.
“E essas mulheres saem preparadas para montar seu salão de beleza, para atender em casa, para vender produtos em loja especializada, para ser maquiadora, e assim elas podem trabalhar com qualquer marca em qualquer lugar. Elas ganham uma profissionalização. E isso ajuda muito as mulheres em situação de vulnerabilidade”.
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