Nunca se falou tanto em propósito e bem-estar dentro das empresas. Se olharmos os dados, porém, o cenário aponta altos índices de burnout, estresse e ansiedade. Será que é possível ser feliz das 9 às 18 horas ou estamos fadadas a uma rotina dura e infeliz? Eu acredito na felicidade no trabalho, mas antes é preciso desmistificá-la.
O conceito de felicidade vem sendo aprimorado desde a Grécia Antiga pelos filósofos. Segundo Aristóteles, ela deriva de elementos básicos, como a saúde, a autonomia e uma condição socioeconômica favorável.
Nas últimas décadas, passou a ser estudada pela psicologia positiva. Martin Seligman, pioneiro dessa linha, dividiu-a em três aspectos mensuráveis: o prazer, o engajamento e o senso de propósito. Pesquisas para medir nossa felicidade fizeram com que a teoria deixasse de ser algo superficial e incerto para virar uma ciência comprovada. Dessa forma, surgiu a área da felicidade corporativa.
Assim como a nossa felicidade não é apenas a busca por prazeres, trabalhar pela dos colaboradores é mais do que realizar ações de satisfação, como oferecer um salário adequado, programas de benefícios e um ambiente cool.
Esses pontos são essenciais, na verdade, pois sem eles há insatisfação, mas não garantem a tal felicidade. Para chegar a ela, é preciso trabalhar também em outro aspecto, o sentido de propósito. As pessoas devem entender qual a contribuição do seu esforço para os resultados da empresa e a sociedade.
Uma funcionária de uma fábrica muitas vezes não percebe a importância da peça que produz. Por isso, é necessário transformar a cultura organizacional para que os colaboradores se sintam conectados, para que a liderança seja positiva e todos entendam que cooperam com um objetivo maior.
Segundo a Harvard Business Review, a produtividade é 18% menor entre funcionários infelizes. Eles também geram 16% a menos de lucro, aumentam em 49% os acidentes no trabalho e têm registros 37% maiores em absenteísmo. Correndo riscos de resultados negativos, será que uma parte dos investimentos da companhia não poderia ser aplicada na felicidade do time?
O mundo mudou, as novas gerações são diferentes e passaram a questionar o status quo. É fundamental que o trabalho esteja relacionado aos valores. Não há mais aceitação de ambientes tóxicos e líderes tirânicos.
Uma figura que apareceu nesse cenário é a do chief happiness officer (CHO). Ela será a influenciadora da felicidade na empresa, criando um plano organizacional para tanto. Medirá a felicidade, fará uma revisão da cultura, engajará a liderança, comunicará e disseminará o tema. Isso exige esforço constante, não é um objetivo que se encerra.
A função é urgente, especialmente neste momento, pois vai mostrar como os líderes devem ser guiados nesta crise e poderá propor um plano seguro para a volta ao escritório. As pessoas estão valorizando companhias socialmente engajadas, e elas devem se preocupar não só com o exterior mas também com os colaboradores.
Está na hora de priorizarmos nossa felicidade no trabalho. Ou esperaremos pelas sextas-feiras e feriados para sermos felizes?
Renata Rivetti é especialista em felicidade corporativa, fundadora e diretora da Reconnect – Happiness at Work
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