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A forma que você consome está mudando e algumas empresas já sabem disso

Uma nova geração de consumidores mais conscientes e focados na troca de experiências começam a ditar a tendência nos negócios

Por Yasmin Abdalla (colaboradora)
Atualizado em 11 abr 2024, 18h40 - Publicado em 17 set 2015, 10h49
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O modo como as pessoas consomem está mudando. E se você pensou imediatamente na palavra crise, pode esquecer: esse é um novo movimento, mais global e que vai além da situação econômica brasileira. É a época do “Lowsumerism”, de acordo com o mais novo estudo da BOX1824, empresa que pesquisa tendências de comportamento e inovação. O Lowsumerism seria uma alternativa ao Consumerism (consumismo, em inglês), esse desejo de compra desenfreado que transforma tudo em descartável. O estudo diz que o consumidor de hoje se baliza por três atitudes importantes: 

1. Sempre pensar antes de comprar
2. Buscar alternativas de menor impacto para os recursos naturais: trocas, consertos e o famoso “faça você mesma”
3. Viver com o que é necessário

Esse é um novo pensamento que não apenas quer mudar a nossa forma de consumir, introduzindo a questão da sustentabilidade, por exemplo, mas reduzir essa vontade dentro de nós. A economia compartilhada (alô, Uber, Airbnb eNetflix!), que permite o acesso dividido a serviços ao invés de estimular a posse em si, é um dos passos em direção ao Lowsumerism.

Alguns negócios já estão pensando nessa nova geração e oferecem produtos e serviços alternativos que se aproximam dessa nova forma de pensar. Reunimos iniciativas lideradas por mulheres que seguem por esse caminho.

O Globo/Divulgação
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Tem Açúcar?

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Refletir sobre essa cultura do consumo desenfreado foi um dos pontos importantes para Camila Carvalho, 25 anos, fundadora da rede Tem Açúcar?. Sabe aquela vez que você comprou um martelo para pregar UM (repito, um) quadro na parede? Pois é. O Tem Açúcar? poderia ter ajudado. O site estimula trocas e empréstimos entre vizinhos por um sistema muito simples: você cadastra o bairro onde mora e passa a fazer parte daquela comunidade, pedindo emprestado ou emprestando não apenas um martelo, mas um colchão de ar, uma furadeira, uma barraca de camping ou qualquer outro item que você queira compartilhar. Se um vizinho tiver e puder emprestar, ótimo, assunto resolvido. “Comecei a ver algumas iniciativas fora do Brasil de compartilhamento de coisas e vi que não tínhamos nada assim por aqui. Essa é uma forma eficiente de realocarmos recursos que já existem, mas não estão sendo completamente utilizados”, conta Camila.

Não apenas o Tem Açúcar? estimula a troca e o empréstimo, como ele também ajuda o usuário a repensar se aquela compra é mesmo necessária. “Tem muita gente que usa o site para experimentar o produto antes de comprar. E por mais que a pessoa acabe comprando, ela pelo menos refletiu sobre aquilo.” Muitos usuários também aproveitam os empréstimos para fazer trocas permanentes. “Conversei com uma pessoa que economizou R$ 500 ao ganhar duas telas de computador e teve uma moça que ganhou uma máquina de lavar.”

No ar desde dezembro de 2014, o site tem 54 mil usuários e está presente em todas as capitais do país. A ideia é que a iniciativa, que começou como um projeto pessoal de Camila e contou apenas com o investimento da fundadora, se torne uma empresa consolidada. “Eu não era da área da internet, não fazia ideia da trabalheira que dava montar um site. Agora começamos a fazer o monitoramento das métricas internas, a organizar questões burocráticas para receber investimentos, a montar uma equipe e a fazer o planejamento para os próximos anos.”

O passo seguinte será lançar uma campanha de financiamento coletivo para viabilizar o aplicativo da rede. “Vamos adicionar novas funcionalidades, como busca por raio, integração com outras ferramentas, como Facebook e Twitter. Com certeza, vai ser uma versão melhorada do site”, conta.

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O objetivo não é apenas tornar as pessoas mais conscientes, mas criar um espírito de comunidade, ajudando-as a economizar dinheiro para o que for realmente essencial para seu bem-estar e felicidade.

Dayana Luiza
Dayana Luiza ()

Ecozinha

Colaboração é também uma das palavras-chave para Fátima Mazarão, 27 anos, que toca ao lado do namorado Luciano Vaini, 37 anos, a Ecozinha. A iniciativa é uma espécie de restaurante (ou melhor, anti-restaurante, como eles gostam de definir) onde as pessoas pagam o valor que quiserem pela refeição que consomem. Os “clientes” têm também um papel importante no serviço do lugar, já que são convidados a colocar e tirar a mesa, assim como lavar os pratos. Ou seja, cada um contribui com o que pode.  “É uma forma de empoderamento das pessoas, não apenas por ser uma prova de confiança, mas por permitir que elas definam o valor daquela experiência”, conta Fátima.

A Ecozinha funciona desde abril em um espaço colaborativo de Curitiba, a Solimões 541, e recebe uma média de 12 pessoas às sextas-feiras no almoço. O menu é completamente vegano e, sempre que possível, produzido com ingredientes orgânicos. “Compramos em empórios e feiras orgânicas, mas precisamos equilibrar o preço das refeições, já que tudo será dividido com quem come”, diz Fátima. Os encontros só acontecem com reserva. “Essa é uma questão muito importante para nós, se uma pessoa fizer uma reserva, ela tem que ir, porque já compramos os ingredientes e preparamos a comida exatamente para aquele almoço”, conta e completa: “Não produzimos em larga escala, é a nossa forma de evitar os desperdícios.”

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O faturamento mensal gira em torno de R$ 1600 e a ideia agora é expandir a iniciativa, lançando um novo horário ou um novo dia. Para isso, o casal vai propor uma campanha de financiamento coletivo com objetivo de reunir o capital inicial para investir no negócio. “Hoje, a gente vende um almoço para pagar o jantar. Queremos melhorar nossa estrutura comprando panelas e materiais de melhor qualidade, e nos profissionalizar para que a experiência chegue a mais pessoas.”

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Cinese

Troca de experiências é justamente o objetivo do site criado pelas irmãs Camila e Anna Haddad, 28 e 29 anos, e por Giovana Camargo, 26. O Cinese é uma plataforma colaborativa em que as pessoas podem propor encontros e eventos sobre os mais variados assuntos. A ideia é compartilhar conhecimento a partir da criação de uma comunidade de aprendizado. “Percebemos uma certa insastifação em relação aos modelos e caminhos prontos que temos que seguir, principalmente quando o assunto é educação”, conta Anna.

Antes do site começar, elas organizaram a Semana Cinética, uma espécie de protótipo dos eventos que gostariam de ver no Cinese, sobre temas como educação, cidade, arte e música. “É importante falar para a pessoas de diferentes espaços sobre sua ideia. A partir daí, divulgamos nosso projeto e pudemos conhecer gente que hoje faz parte da equipe”, afirma Camila. Em agosto de 2012, o Cinese entrou no ar.

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Hoje mais de mil encontros passaram pelo site, organizados em 10 Estados. Os assuntos podem ser os mais variados, como oficinas para preparar hortas em casa, aulas de fotografia e encontros para empreendedores. Qualquer pessoa pode propor um evento na plataforma, definindo todos os aspectos: tema, preço, forma de pagamento – o Cinese em si não interfere nesses quesitos.  “Acontece de tudo e o mais legal é o que acontece para além dos encontros. Está tudo no fomento da relação entre as pessoas a partir do conhecimento compartilhado”, conta.

A troca de experiências cria uma rede tão forte que o consumo acaba em segundo plano. “A ideia é que uma pessoa vá a um encontro, aprenda sobre elétrica e possa consertar o próprio chuveiro ao invés de comprar outro. Adquirir habilidades permite outra relação com as coisas”, afirma Camila, que completa:

A possibilidade dos encontros traz à tona a riqueza das outras pessoas e permite o acesso a algo que não poderia se dar pelo consumo

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