Sou dada a favelas. Vivo no Rio, carioca da gema, balzaca “ixperta” que circula na cidade da maravilha e do caos. E como vou sempre pra Sampa de carro, um dia fui visitar o favelão estilo Rocinha, encravada no meio dos ricos, só que plana. Senti um upgrade. Muitas Casas Bahia, uma infinidade de vendas e negócios, um vuco-vuco de gente e aqueles emaranhados de fios, esgotos, cachorros soltos bem típicos de comunidades. Mas como é São Paulo, a carestia reluz diferente.
Meu motivo lá era visitar uma rezadeira amiga do meu marido. Fomos pro beco X, na rua Y, ziguezagueando como se ser carioca nos blindasse de qualquer mal, afinal de pobreza a gente entende. Depois de muito rodar chegamos na casa da amiga dele. Barraco simples, um cômodo apenas e aquela desarmonia familiar e acolhedora típica dos excluídos. Fui super bem recebida, sentei na cama dela a um passo da geladeira e dois pulos do fogão. Tudo mínimo, tudo urgente em ser promíscuo, mas como a moradora era de Deus, o ar estava zen.
Oramos juntas, ela falou em línguas, me benzeu, conversou comigo em seu linguajar quase dialeto e, ao terminar, eu dei uma saída daquele cafofo para que meu marido fosse atendido. Ali, sozinha em Paraisópolis fiz amizade com a cabeleireira local e o pedreiro que moravam na frente. Jornalista que sou, impus um diálogo-inquérito e ouvi maravilhas daquela favela-bairro. Eles criaram seus filhos ali, se divertiam por ali, oravam ali. Quando vi a notícia dos 9 jovens mortos por agressão, pisoteamento, chutes, tapas e pauladas me lembrei da minha “excursão”. E lamentei que aquela reza não tivesse poder de blindar quem mais precisa. Meus pêsames garotada!
Leia mais: Ela vem toda de branco
PODCAST – Como consumir menos, de forma consciente e inteligente