Algumas cidades brasileiras já estão passando pela reabertura gradual dos serviços – como o comércio, escritórios, concessionárias e imobiliárias. Em Belo Horizonte, por exemplo, os salões de beleza voltaram a funcionar no dia 25 de maio. Em outras cidades, como São Paulo, barbearias, cabeleireiros e manicures permanecem fechados, até que a capital entre na Fase 3 – Amarela da quarentena.
Apesar de cada município brasileiro ter protocolos e datas diferentes para a reabertura dos salões de beleza, há um ponto em comum entre eles: a rotina adaptada a uma nova realidade, bem diferente da que estávamos acostumados. Isso porque são locais de alto risco de disseminação do novo coronavírus.
“Em ambientes como os salões, que normalmente são pequenos, o contato com outras pessoas é muito grande, porque os clientes costumam sentar um do lado do outro e o profissional fica muito próximo da pessoa que ele está atendendo”, explica Karen Mirna Loro Morejon, médica infectologista e membra da Sociedade Paulista de Infectologia. “O cabeleireiro toca no cliente, assim como o massagista, a profissional que faz a sobrancelha, a manicure… é muita proximidade”, completa.
Segundo a revista científica New England Journal of Medicine, o novo coronavírus pode sobreviver por até três dias em superfícies feitas de plástico ou aço. Por isso, segundo Karen, o compartilhamento de utensílios e produtos usados nos salões de beleza – como o secador, as escovas de cabelo, pinças para a sobrancelha e alicates para as unhas – traz riscos de transmissão da Covid-19. Portanto, a rotina de atendimento desses estabelecimentos terá que mudar e seus funcionários terão que seguir protocolos de segurança.
“O cliente terá que usar máscara dentro do salão, redobrando sempre a higienização da mão, mantendo distância de outro cliente”, elenca a infectologista. “Os funcionários também devem usar máscaras, higienizar as mãos com maior frequência, higienizar as bancadas e todos os materiais que forem usar. Quem fica na área de atendimento deve higienizar o teclado, mouse e celular. Também será preciso limpar banheiros, cadeiras e poltronas.”
Como os salões que ainda não abriram estão se preparando?
Pensando nisso, CLAUDIA conversou com cabeleireiras e donas de salão de beleza para saber como estão se preparando para a reabertura. Rosângela Barchetta, sócia-proprietária da rede de cabeleireiros Studio W, em São Paulo, conta que os protocolos do salão já foram alterados logo no início da pandemia, antes mesmo da quarentena se iniciar no Brasil, pelo fato de atenderem um público que costuma viajar para fora do país frequentemente.
Com o decreto do isolamento social na cidade, emitido em março, o Studio W fechou suas portas, deixando, também, de atender clientes em casa. “Seguimos rigidamente a quarentena”, afirma Rosângela. Para aproveitar o tempo em isolamento, funcionários da rede puderam participar de aulas à distância, feitas em parceria com a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), sobre saúde mental e inteligência emocional.
“Focamos muito na questão emocional, porque, afinal, optamos em ficar em isolamento para cuidar da nossa vida. Graças a Deus, ninguém do W teve Covid-19, mas tiveram pessoas que perderam familiares e amigos. Então, pensamos em cuidar da saúde mental”, explica Rosângela. Vouchers promocionais também foram vendidos antecipadamente para ajudar os profissionais durante essa fase, além da venda de produtos para cabelos via aplicativo de entrega e WhatsApp.
Quanto aos cuidados no atendimento, para quando o salão for reaberto, a Studio W está se organizando para disponibilizar face shields – máscaras de proteção facial – para maquiadores, barbeiros e depiladores, que são profissionais que têm uma proximidade maior com os clientes. Todos os outros funcionários deverão usar máscaras.
Antes da entrada, os clientes vão ter que passar por uma espécie de estação de desinfetação, onde deverão higienizar as mãos, desinfetar os sapatos e esterilizar os celulares. A temperatura corporal também será medida com termômetro de luz infravermelha. Um limite de clientes vai ser estabelecido e horários marcados devem ser seguidos, não podendo haver “encaixe” de clientes entre um horário e outro. Além disso, haverá marcações no chão, indicando onde cada cliente deverá se posicionar durante o atendimento, respeitando o distanciamento.
Mas e quem não conseguiu parar de trabalhar?
Para trabalhadores autônomos e salões menores, a realidade é diferente, mesmo em cidades como São Paulo. Tatiane do Prado, de 33 anos, por exemplo, é colaboradora da Clínica dos Cachos, salão especializado em cabelos cacheados. Com o fechamento do estabelecimento devido ao isolamento social, três filhos pequenos para cuidar e a demora para receber o auxílio emergencial, ela precisou atender clientes em suas casas.
“Esse período do isolamento está sendo muito difícil, porque até eu começar a receber o auxílio do governo passamos muita dificuldade”, conta. “Com a procura de pessoas que me chamavam pelo Instagram e com a minha necessidade, eu entrei em um acordo com as clientes e passei a atendê-las à domicílio”, explica.
Para isso, Tatiane também toma cuidados. “Eu não pego transporte público, meu esposo consegue me levar e me buscar. Chegando lá, prefiro atender em uma área livre, como o quintal ou a churrasqueira do prédio. Não entro na casa da cliente. Uso luva, máscara e também levo um chinelo limpo para poder tirar o tênis”, detalha.
Quanto à Clínica dos Cachos, o estabelecimento também se prepara para a reabertura. “Vamos fazer revezamento de equipe, medir a temperatura na entrada, dedetizar uma vez por semana. Entregaremos também um kit para a cliente com capa de corte descartável e luvas”, explica a profissional. “Estamos com medo de voltar, mas estamos ansiosos, porque precisamos trabalhar e estamos com uma demanda muito grande de clientes nos procurando”, finaliza.