Está difícil criar um novo hábito por aí? Antes que você comece a se culpar, precisamos voltar a fita alguns anos, especificamente lá nos primeiros meses da pandemia de Covid-19. Para alguns, o lockdown trouxe uma oportunidade para se jogar no artesanato, pintar e até aprender a tocar instrumentos musicais. Ao mesmo tempo, outros tantos se questionaram: como é possível encontrar forças para acrescentar tarefas inéditas num cotidiano que, na época, já estava tão imprevisível?
Corta para 2023, um ano que marca muitos recomeços: aos poucos, conseguimos retomar a rotina, planejar projetos a longo prazo e nos preocuparmos com problemas menos apocalípticos (literalmente). Tudo perfeito para voltar a pensar em criar novos hábitos, certo? Não necessariamente. A verdade é que, em tempos imediatistas, fica cada vez mais difícil reservar um momento para imaginar diferentes estruturas de vida.
Não é exagero afirmar que idealizar uma vida mais saudável (o que inclui mudanças simples como dormir ou comer melhor) envolve ações mais complexas do que a boa e velha vontade. “Quando falamos em desenvolver ou largar hábitos, precisamos nos questionar sobre quem somos. É necessário ter autoconhecimento para saber o que queremos, o motivo desse desejo e a melhor alternativa diante das atuais circunstâncias”, afirma Ana Carolina, psicóloga comportamental. Para ela, é dentro da busca por nossas necessidades que compreendemos o que verdadeiramente queremos abraçar ou deixar para trás. E, às vezes, esse é um processo muito mais emocional do que prático.
Vamos começar pela transformação de algo eventual em costume. De acordo com Larissa Rodrigues, autora do livro Rotina Criativa e Hábitos que Mudam (Galera Record), houve uma época em que o consenso entre os estudiosos era de 21 dias para consolidarmos algo novo. Mas, hoje, a história é outra: “A ciência e as pesquisas avançaram, e esse ‘período’ se estendeu para 66 dias. Há especialistas que apontam que podemos levar até 254 dias. Ou seja, tudo depende da complexidade, intensidade e frequência em que estamos praticando algo”, explica.
Motivos e intenções identificados, é hora de traçar as estratégias. Larissa indica que uma das principais táticas para começar um novo projeto é apostar num início lento e progressivo, ao invés de já criar expectativas altas e irrealistas. “Quem nunca decidiu entrar para a academia e colocou na cabeça que deveria ir todos os dias? Isso não funciona. Comece indo três vezes por semana, num lugar mais próximo da sua casa. Ou, então, compre acessórios para se exercitar em casa.”
O mesmo vale para manias que queremos largar, como a clássica tentação de ficar mexendo no celular ao deitar na cama. “Ao invés de declarar que nunca mais irá usar o smartphone antes de dormir, reduza o uso gradativamente. Deixe o dispositivo de lado vinte minutos mais cedo ou troque o eletrônico por um livro. Quando somos muito radicais, a tendência é falharmos”, aconselha.
Outra dica importante nesse processo de criar um novo hábito é celebrar as suas conquistas. Pode soar como algo bobo ou insignificante, mas, ao contrário, essa tarefa é essencial para o cérebro entender o quanto aquela atividade é positiva para você. “Os sentimentos de conquista e satisfação estarão associados à ação, e isso faz a nossa psique querer repetir aquilo. Portanto, comemore atitudes para consolidá-las”, diz Ana Carolina.