“Minha família sempre teve o costume de passar o Natal na praia, mas, há alguns anos, resolvi que queria fazer diferente por causa de um ficante que esperava evoluir para um namoro mais sério. Ele me convidou para a festa da família dele, que era grande e reunia vários amigos — uma comemoração com cara de festão mesmo. Eu ainda morava com meus pais, então achei melhor esconder o motivo para não descer para o litoral: resolvi dizer que precisaria trabalhar, e a desculpa colou.
Família na praia, look decidido e lá fui eu para a tal festa do ficante. No começo, tudo certo: me dei bem com os parentes dele, comi e me diverti. Mas dei aquela escorregadinha no álcool, típica de quem está um pouco no clima de festa, um pouco no nervosismo de ‘será que isso vai virar algo a mais?’.
No decorrer, um amigo do meu ficante começou a dar em cima de mim e eu dei um fora nele. Pronto, começou a confusão: era aquele típico boy lixo, que, depois de receber um não, começa a dizer que você não é tudo aquilo, que se acha demais e outras frases nesta linha. Não deu outra, meu ficante e ele emplacaram uma briga e o caos se instaurou no evento (não tão) familiar. Enquanto eles saíam na mão, eu ouvi um chamado da natureza. Corri para o banheiro!
Na sa la, a família tentava separar o quebra-pau e expulsava o garoto, enquanto, no banheiro, eu parecia vomitar até as tripas. Quando achei que tinha acabado, veio o ‘piriri’. Alguma coisa naquela mistura de comidas natalinas e muita cachaça não caiu bem, e eu fiquei noite adentro no vaso, sem nem saber o que se passava do lado de fora.
Saí de lá quase de manhã, morrendo de vergonha. Quando todos acordaram, fiquei sabendo da confusão e, claro, descobri que todos sabiam da minha madrugada. O ficante me disse que estava chateado porque pretendia me pedir em namoro, mas tudo deu errado. Constrangi – da, nem consegui ficar feliz com o fato de pelo menos saber que ele queria o mesmo que eu. Peguei as minhas coisas apressada e sumi dali. Quando cheguei em casa, a cereja do bolo (ou seria panetone?): chateados por me deixarem sozinha e trabalhando no Natal, meus familiares terminaram a ceia e subiram para São Paulo para me surpreender — só para descobrirem a minha ‘pequena’ mentira. Mais um climão.
No fim, nada deu certo: a vergonha fez a relação ir pelo ralo, e ainda tive que lidar com as cutucadas da família por um bom tempo. Mas, pelo menos, a comida estava ótima. Afinal, quem não gosta de uma boa ceia, não é mesmo?”
*Os nomes foram alterados para garantir o anonimato dos participantes. Para contar sua história, escreva para papoaberto@abril.com.br.