Ter um relacionamento aberto, ao contrário do que muitos podem pensar, requer comprometimento, organização e responsabilidade emocional. Contudo, muitos acabam recorrendo à decisão como uma estratégia para “salvar a relação” ou dar a famosa apimentada nas coisas. Nem é necessário dizer que, sem fundamentos concretos para sustentar a decisão, a empreitada pode dar (muito) errado.
Pensando nisso, a psicóloga especialista em casais Michelle Branquinho (CRP09/7474) traz dicas para quem deseja abrir o relacionamento sem consequências nocivas a curto e longo prazo. Confira:
1. Sem diálogo assertivo, sem abertura
Michelle deixa claro, logo de cara, que abrir a relação pode não ser a melhor opção para casais que não costumam ter facilidade para dialogar e solucionar conflitos. “O relacionamento aberto pode até mesmo potencializar questões que ficaram em aberto, tornando a dinâmica do casal mais complexa”, afirma.
Sendo assim, ela indica que as pessoas resolvam quaisquer questões pendentes da dinâmica afetiva antes de embarcar nesse novo modelo afetivo.
2. Entrar em um relacionamento aberto sem estar certa disso
Essa é uma situação clássica: apenas uma das partes deseja embarcar na poligamia. Para a psicóloga, isso gera um enorme problema, especialmente quando o outro tenta nos forçar a acatar a decisão.
“É daí que surgem sentimentos de ansiedade e incerteza. Se eu tenho medo de perder essa relação, eu não vou aceitar. E o outro precisa compreender tal fragilidade, jamais impor às suas vontades na dinâmica”, esclarece.
3. Abrir para colocar a poeira debaixo do tapete
Às vezes, quando o relacionamento está caindo na rotina ou passando por problemas temporários, as pessoas recorrem ao relacionamento aberto como uma maneira de mascarar os conflitos.
Tal fuga, de acordo com Michelle, cria um território propício para frustrações intensas. Ela reitera: “Resolva questões pendentes antes de tomar qualquer tipo de decisão definitiva.”
4. Não criar limites (e não controlar o ciúmes)
A psicóloga diz que, apesar do perfil ciumento não ser um impeditivo para a abertura do relacionamento, tal traço de personalidade precisa ser levado em consideração antes de sair mergulhando de cabeça na empreitada. “Quem sente mais ciúmes precisa negociar limites para que as coisas funcionem”, diz.
Agora, caso estejamos falando de um ciúme possessivo, o papo é completamente diferente: “Essa pessoa provavelmente não conseguirá atravessar esse processo. Relacionamentos saudáveis requerem compromisso, comunicação e respeito mútuo, e o ciúmes patológico traz justamente a dificuldade em respeitar o próximo. Se não houver um ambiente emocionalmente seguro, sem características invasivas, a tentativa pode fracassar”, explica.
5. Abrir o relacionamento para apimentar as coisas
Para a psicóloga, abrir o relacionamento para apimentar a vida sexual e afetiva demonstra que, em algum nível, o casal não compreende de fato o que é um relacionamento aberto.
“Isso pode gerar muitos problemas, pois, comumente, as pessoas acabam não conseguindo gerenciar sentimentos como insegurança e ciúmes”, diz.
O mais aconselhável, antes de tudo, é que os casais entendam o que é a poligamia: “Esse é um estilo de relacionamento, não uma opção temporária ou um processo para apimentar a dinâmica. Não é como entrar em um sex shop e escolher um brinquedo. Muitas coisas mudarão, e pessoas estarão envolvidas na equação. Isso torna tudo mais delicado”, alerta.
6. Não ter responsabilidade afetiva
Muitas vezes, a falta de empatia e respeito pelas emoções alheias se tornam presentes quando o casal opta por abrir a relação.
“Frequentemente, o parceiro traz a proposta quando o outro sequer havia parado para pensar nisso. E aí, nesse meio tempo, a pessoa que deseja a abertura não consegue esperar o tempo do próximo. Isso é muito complicado”, declara.
Com isso, muitos podem recorrer à manipulação emocional para conseguir convencer o parceiro de que essa é a decisão correta. A longo prazo, quaisquer vínculos são quebrados diante de atitudes egoístas.
“Outro ponto importante: mesmo num relacionamento aberto, as pessoas acabam quebrando promessas. Toda relação precisa de acordos e, às vezes, eu os quebro para conseguir aquilo que eu quero. Isso certamente torna a dinâmica extremamente irresponsável do ponto de vista amoroso.”
Dicas indispensáveis para abrir a relação de forma saudável
Segundo Michelle Branquinho, a transparência e honestidade são pilares essenciais nesses cenários. “A partir do momento que existe um consentimento mútuo, os dois precisam sentar e estabelecer juntos o que concordam ou não.”
Além disso, jamais podemos esquecer que a relação principal deverá sempre ser priorizada. “Embora vocês estejam abertos, é necessário não negligenciar um ao outro. Dedicar tempo e esforço para nutrir e fortalecer esse laço é a prioridade”, afirma.
Por fim, nada é escrito em pedra (especialmente quando estamos falando de uma relação que possui uma certa flexibilidade).
“Não tenha medo de ajustar acordos e regras. Isso vai acontecer o tempo todo num relacionamento aberto. Conversar sobre, criar novas normas e rever o que foi estabelecido é essencial para que uma relação aberta seja saudável”, conclui.