Apesar de estarmos em 2023, os vibradores continuam sendo alvos de inúmeros tabus e fake news. Sim, ainda há quem acredite que usar essa valiosa ferramenta é sinônimo de insatisfação no relacionamento, solidão e até mesmo vulgaridade (alô, machismo!). Com isso, muitas mulheres acabam ficando receosas em comprar o sex toy, adiando a aquisição por meses ou até anos.
Porém, segundo a educadora sexual Claris Leal, essa resistência está intimamente ligada a séculos de repressão à sexualidade feminina: “Sofremos muito com o afastamento de nosso próprio prazer. Houve uma demonização literal do clítoris na época da inquisição. Infelizmente, isso se estendeu aos dias atuais, fazendo com que a grande maioria de nós não conseguissem acessar essa potência de prazer”, declara.
E para a especialista, é aí que entra a (enorme) importância dos vibradores: “A partir do momento que temos uma ferramenta que, através de uma vibração mecânica, nos ajuda a acordar partes do corpo que estavam adormecidas, a sentir novas sensações e a ativar a circulação sanguínea necessária para termos um orgasmo, isso é muito poderoso”, afirma.
Ela pontua que, inclusive, diversas mulheres sofrem com a anorgasmia por questões culturais, e ao utilizar o sex toy, conseguem alcançar o primeiro orgasmo mesmo depois da terceira idade: “É algo tão bonito que me deixa emocionada”, compartilha.
Pensando em tudo isso, a educadora sexual listou uma série de dicas para quem ainda não comprou o seu primeiro vibrador — independente do motivo. Anote aí, que os conselhos são valiosos:
1. Se conheça primeiro
Antes de sair comprando quaisquer produtos, Claris indica entendermos que o vibrador é uma ferramenta que, sim, ajuda no processo de autoconhecimento e busca pelo prazer… Mas ele não faz milagres! “É essencial que a pessoa já tenha começado essa jornada do autoconhecimento corporal antes de comprá-lo. Podemos fazer isso olhando para a própria vulva no espelho, nos tocando, inserindo os dedos no canal vaginal. Não podemos ter medo dos nossos corpos, pois isso é limitante e reduz a nossa potência”, indica.
A profissional afirma que, a partir deste processo que envolve observação e toques, podemos descobrir se curtimos uma velocidade mais intensa, se preferimos que os dedos entrem no canal vaginal ou permaneçam em uma área mais externa, e por aí vai. “Esse passo-a-passo é ótimo para entender qual tipo de vibrador gostamos mais, pois hoje o mercado tem 150 milhões de opções, o que pode ser um pouco confuso”, pontua.
2. Analise as necessidades de sua rotina
Ela reitera: compreender a forma que preferimos ser estimuladas é essencial para escolher o produto mais adequado: “Com isso, sabemos se a pessoa vai preferir um vibrador que também seja penetrável ou um menorzinho clitoriano. Não podemos ignorar a questão da privacidade: muitas mulheres, especialmente mães, só conseguem se tocar no banho. Aí, um vibrador à prova d’água, e preferencialmente silencioso, pode ser interessante”, aconselha.
3. Vibradores multi-funções podem ser úteis
Claris avisa que, hoje em dia, muitos vibradores possuem mais de duas ou três funções. “Tem produtinhos que sugam, penetram e fazem massagem clitoriana, tudo no mesmo aparelho. Ou então, há aqueles bem pequenos com uma super potência. É legal começar por esses mais versáteis, para então nos aprofundarmos no segmento que quisermos.”
4. Cuidado com as expectativas
A educadora revela que muitas mulheres acabam ficando frustradas ao se deixar levar pelo o que as amigas falaram (ou o que leram em sites e revistas). Todavia, a comparação é um terreno fértil para decepções e experiências não tão satisfatórias: “Cada corpo é um corpo. Há sugadores que prometem o orgasmo em até três minutos. E realmente, tem gente que vai atingi-lo em segundos, e outras, depois de muito tempo de estimulação. Portanto, é muito importante focar na jornada de prazer, não apenas no objetivo final.”
5. Procure uma loja confiável
Na hora de checar as lojas, dê uma conferida nas avaliações, se o estabelecimento possui uma boa curadoria e principalmente se os produtos não são danosos ao corpo. “Ainda é bastante comum encontrar sex toys feitos com materiais cancerígenos, alergênicos e tóxicos. Claro, não precisa sair conferindo a composição de tudo como uma cientista. Mas garantindo que a loja tenha uma alta qualidade, já ajuda muito”, avisa.
6. Vibradores de silicone
Para quem não tem muita experiência com os vibradores, Claris Leal recomenda optar por aqueles feitos de silicone. “Este é um material muito seguro, possui um ótimo custo-benefício, são fáceis de limpar e servem tanto para estimular o clitoris quanto o ‘Ponto G’.”
7. Curta a sua individualidade
Antes de inserir o vibrador na relação a dois (ou a três), experimente o produto sozinha. “Claro, descobrir juntos é uma delícia e gera muitas coisas gostosas. Mas quando entendemos previamente como gostamos de ser estimuladas, fica mais fácil descobrirmos outros pontos, posteriormente, com nossos parceiros”, pontua.
8. Não se prenda ao formato de pênis
Para Claris, precisamos urgentemente nos desprender daquela ideia do ‘consolo’ ou ‘falo’. Portanto, apostar em formatos diferentões pode ser uma ótima pedida: “Hoje em dia há tantos formatos extremamente únicos, que geram bastante prazer e vão muito além dessa coisa da penetração pela qual a nossa sociedade é tão obcecada”, compartilha.
Ela afirma que, ao pararmos de desejar ter algo que esteja associado a um pênis, conseguimos atribuir um outro (e mais valioso) significado ao vibrador: “Mais do que um objeto fálico, ele é uma ferramenta que nos ajuda a conhecer novas estimulações corporais, quebrando esse ciclo da penetração.”
9. Não esqueça do lubrificante
Não usar lubrificante é um dos erros mais comuns entre quem decide adquirir o primeiro vibrador. Contudo, ele é essencial para uma boa experiência: “Recomendo um bom lubrificante à base d’água, pois isso traz mais prazer, facilita que a ferramenta funcione ao máximo de sua capacidade e traz todo o conforto que precisamos neste momento de intimidade.”
10. Compre mesmo que estiver em uma relação
E por último, mas não menos importante: não deixe de comprar apenas porque você está em um relacionamento. Até porque, ao ampliarmos o nosso prazer individual, potencializamos o prazer com outras pessoas. “Eu priorizo muito que o melhor sexo que tenhamos seja primeiro com nós mesmos, e depois com outras pessoas. Só com isso que, de fato, nos tornamos ‘boas de cama’. Quem se conhece, tem seus limites bem estabelecidos, possui um entendimento corporal, e consequentemente, tem uma inteligência sensorial mais lúcida e avançada.”
Leal finaliza declarando que precisamos tirar esse estigma de que utilizar os vibradores é equivalente à traição, pois, na verdade, estamos falando sobre um ato de conexão interna que libera serotonina, dopamina, oxitocina, ajuda com inúmeras dores e traz um bem-estar geral. “É muito bom que cada um possa ter essa individualidade respeitada”, conclui.