Eu e Paulo nos conhecemos no banco em que trabalhava. Por ser gentil e educado, uma raridade ainda maior entre os homens da época, as meninas eram doidas por ele. Começamos a trocar alguns flertes, conversar, sair para almoçar… Tudo era muito leve, e isso me deixava feliz, principalmente porque eu tinha acabado de terminar um relacionamento conturbado que durou 17 anos. Certo dia, quando já estávamos mais íntimos, ele me chamou para ir ao cinema assistir Love Story [filme de 1970 dirigido por Arthur Hiller]. Lá, nos beijamos pela primeira vez e algo especial aconteceu: fui pedida em namoro. Parece besta, mas foi emocionante.
A partir daí, foram só memórias boas. Nos encontrávamos nas horas mais inusitadas do dia, íamos para o Aeroporto de Congonhas para tomar um café e papear sobre a vida. Cheguei a conhecer os amigos dele em uma viagem para a praia, e ele disse que não via a hora de me apresentar aos meus futuros sogros. Não tinha como não criar expectativas — tudo parecia estar ficando cada vez mais sério. Bom, quando completamos um ano e meio de namoro, ele me convidou para jantar no Centro de São Paulo. Como as coisas estavam normais, não desconfiei de nada. Achei que fosse apenas uma noite romântica.
Chegamos no restaurante, pedimos os pratos, comemos e tivemos ótimas conversas. De repente, percebi que a fala dele começou a engasgar, como se tivesse nervoso. Senti algo estranho no ar. Quando perguntei se estava tudo certo, Paulo respondeu que precisava dizer algo para mim. Na hora, pensei que fosse coisa boa, quem sabe até um pedido de casamento! Doce engano. Ele começou a falar sobre a ex-namorada… Primeiro, contou sobre a relação marcante que os dois tiveram no passado. Depois, levantou que eles se reencontraram recentemente. E, por fim, soltou a bomba: ambos estavam namorando há alguns meses e a moça acabou engravidando.
A FALA DELE COMEÇOU A ENGASGAR. PENSEI QUE FOSSE COISA BOA, QUEM SABE ATÉ UM PEDIDO DE CASAMENTO! DOCE ENGANO. ELE COMEÇOU A FALAR DA EX E SOLTOU A BOMBA: AMBOS ESTAVAM NAMORANDO HÁ ALGUNS MESES E A MOÇA ACABOU ENGRAVIDANDO
Lembro de suas exatas palavras: ‘Desculpe, mas descobri que estou apaixonado por ela, não por você’. Fiquei sem reação. Ele percebeu e me perguntou se eu estava entendendo a situação. Mas eu não conseguia acreditar. Ficava pensando: ‘Como um homem tão gentil poderia estar me traindo sem eu perceber ao menos um sinal?’. Quando voltei para a Terra, apenas respondi: ‘Tá bom. O importante é que você está feliz’.
Acho que isso pegou o Paulo um pouco de surpresa. Talvez ele esperasse uma grande reação. Lógico, quando algo assim acontece, nós sofremos. Aquilo dói, porque achamos que o cara está apaixonado, idealizamos um futuro e, repentinamente, tudo termina. Mas, ao mesmo tempo, o que podemos fazer? Se alguém não te quer, você não pode forçar. Nesse ponto, sempre fui muito forte. Vou lá ficar chorando a vida inteira por não me sentir amada por uma única pessoa?
Enfim. Quando as coisas acalmaram, ele perguntou o que eu queria fazer, e falei: ‘Vamos pedir um sorvete’! Comemos a sobremesa, e perguntei ao Paulo se ele me levaria para casa, porque já estava tarde e eu tinha medo de voltar sozinha. O caminho não foi lá aquela alegria, como há de se imaginar. Antes de sair do carro, nos abraçamos, desejamos o melhor um ao outro, e ele me pediu desculpas…
Agora, algo meio constrangedor: quando terminamos, o pessoal do trabalho não sabia da história toda. Aí vinha uma galera perguntar como estava a relação e eu precisava responder: ‘Então… Ele vai se casar. Mas não comigo’. Mais para frente, os dois realmente tiveram a cerimônia, o menino deles nasceu… E, eu, eventualmente, saí daquele emprego e conheci outro alguém. É a vida.”