“Atingi o orgasmo e saí correndo para fazer xixi. No banheiro, comecei a rir, e depois chorar. Aí eu dava risada porque estava chorando e depois chorava de novo”. É assim que Beatriz, de 21 anos, relata as diferentes sensações ao gozar de maneira mais intensa do que o normal – principalmente depois de passar meses sem transar. E, assim como ela, diversas mulheres afirmam chorar ou ter crises de riso após alcançar o ápice da relação sexual.
Com isso, surge uma pergunta inquietante: é normal quando o corpo responde dessa forma?
A resposta de Fernanda Torras, médica da Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia, é: SIM, e a razão tem fundo fisiológico. “O orgasmo é caracterizado por prazeres na genitália, levando a uma sensação de relaxamento e bem-estar geral. A liberação intensa de hormônios pode ocasionar alterações de comportamento típicas de um descontrole psíquico transitório, como crises de riso, falar palavrões ou, até mesmo, a disforia pós-orgasmo, em que algumas mulheres apresentam choro e tristeza após o sexo”.
Ainda de acordo com a especialista, os hormônios liberados em grande quantidade no ápice do prazer sexual são: endorfina (sensação de bem-estar, risos, reações de euforia), adrenalina e noradrenalina (batimentos cardíacos acelerados), ocitocina (contração uterina), além do estradiol e andrógeno que são responsáveis por maior vascularização vaginal e, consequentemente, lubrificação.
Sendo assim, a crise de riso e/ou o choro podem vir como uma resposta positiva ao pico de hormônios durante o orgasmo, só que também há a disforia pós-sexo – que não é nada divertida. Ao tê-la, a pessoa pode sentir tristeza, vontade de chorar e até mesmo uma sensação de vazio após o auge do prazer.
É exatamente assim que Vitória Cauchioli, de 23 anos, descreve o sentimento que a dominou duas vezes após ter um orgasmo. “Lembro que, nas vezes que isso aconteceu, foram em dias em que eu já estava me sentindo muito sensível em relação às coisas. Antes de chegar ao orgasmo, em alguns momentos eu já estava com vontade de chorar. Era uma sensação bem estranha porque o sexo em si estava bom, eu estava sentindo prazer, mas vinha quase que como uma onda esse sentimento. Até que, quando eu tive o orgasmo, passaram poucos segundos e o choro veio com tudo”.
Vitória diz que o que ela sentiu não foi exatamente tristeza, mas algo parecido com isso. “Era um sentimento melancólico, acho que isso é o que chega mais perto. E também me senti mal por estar chorando, me senti culpada e fiquei preocupada com a pessoa que estava do outro lado, porque não tinha relação com ela”. Inclusive, ela decidiu mentir uma vez a respeito do motivo do choro, para que a parceira não se sentisse mal com a situação.
A ginecologista Fernanda Torras pontua que, caso a disforia aconteça com frequência, é indicado que a paciente procure por psicoterapia para transformar a forma com que o corpo reage à situação.