“Distanciadores”: a expressão, que vem ganhando cada vez mais força nas redes sociais, se refere àqueles que fogem de quaisquer conflitos nos relacionamentos amorosos. Mas não para por aí: além de evitar discussões, essas pessoas também se fecham emocionalmente na presença de um atrito, dando o famoso gelo em seus desafetos. Será que isso é saudável? E por que alguns indivíduos recorrem ao distanciamento na hora de solucionar desentendimentos?
Para compreender a questão, CLAUDIA bateu um papo com a psicóloga humanista Paloma Gomes. Confira:
Por que ser um ‘distanciador’ é tão grave
Primeiramente, é necessário compreender que quaisquer relações — sejam amistosas, afetivas, familiares ou profissionais — são construídas a partir de muitos diálogos. Aliás, Paloma brinca que “nenhuma pessoa vem com um manual de instruções” para que possamos evitar contratempos.
Sendo assim, a especialista pontua logo de cara: “Discutir o relacionamento — a temida ‘D.R’ — serve para colocar às claras o que cada um deseja no vínculo, fortalecer a união, deixar a dinâmica mais sólida e ajustar as expectativas.” Soa essencial, certo?
Porém, os ‘distanciadores’ — por inúmeros motivos que iremos explicar em breve — acabam não entendendo a importância do diálogo, preferindo afastar o próximo ao invés de resolver logo a questão. E por mais que a atitude possa ser um mecanismo de defesa, a psicóloga afirma que tal posicionamento é “violento”.
Ela esclarece: “O distanciamento é considerado um ‘tratamento de silêncio’ e pode ser extremamente nocivo, pois estamos concentrando todo o trabalho mental no outro. É bem diferente de precisar de um tempo para digerir uma questão. Aqui, esfriamos, tratamos a parceria de maneira ríspida e deixamos de nos comunicar. Consequentemente, colocamos um peso nas costas de quem amamos, se tratando de uma irresponsabilidade afetiva.”
Por que os distanciadores agem desta forma
Paloma afirma que, comumente, quem se fecha frente a conflitos possui complexos relacionados à família, criação e amadurecimento. Portanto, acaba sendo muito difícil que um ‘distanciador’ identifique que está se comportando dessa maneira: “A melhor possibilidade [de mudança] é a parceria apontar o problema e a pessoa reconhecer, realizando uma autoavaliação para melhorar. Mas é imprescindível estar realmente interessado na mudança. Para isso, aconselho muito buscar ajuda terapêutica para aumentar o autoconhecimento”, diz.
Relacionamentos não são perfeitos
Segundo a psicóloga, outra causa bastante comum para que os indivíduos se fechem durante conflitos é a idealização de um relacionamento perfeito — isto é, sem brigas: “Quando olhamos para a vida, percebemos que todas as relações podem nos magoar ou serem passíveis de discussões. Então é necessário desconstruir essa romantização das relações humanas. Precisamos nos arriscar, sair desse ideal de perfeição”, declara.
Ela dá uma dica valiosa para conseguir abraçar tal raciocínio: “Enxergue a beleza em duas pessoas, com personalidades distintas, estarem dispostas a construir algo juntas. Atritos são naturais, significam que há vida ali, que há movimento. Uma relação sem nenhum conflito está estagnada, com poucas coisas acontecendo.” Ela complementa: “Claro, não estou dizendo que a relação precisa de brigas para ser boa. Mas é bom enxergar a ternura de escolher estar juntos apesar das adversidades.”
Esteja atento à autoestima
Cultivar a autoestima é essencial para quem se fecha durante as D.Rs: “A insegurança nos coloca em um estado de raiva, onde atacamos o parceiro [seja com palavras ou silêncio] como uma forma de defesa. Conforme vamos melhorando a nossa autoestima, fica mais fácil comunicarmos ao outro aquilo que nos incomoda. Quem nos ama verdadeiramente não irá nos abandonar por sermos verdadeiras”, alerta.
Paloma Gomes compartilha um último conselho: não devemos rotular a discussão de relacionamento como algo ruim ou sinônimo de término: “É justamente o peso que colocamos na D.R. que faz as pessoas fugirem. Porém, não se esqueça: duas pessoas, que se relacionam de maneira saudável, discutem a fim de encontrar uma solução, não um fim. Construir esse espaço de confiança e escuta é primordial”, conclui.