Em um universo onde a hipersexualização e o acesso à pornografia crescem dia após dia, uma dúvida recorrente permeia os relacionamentos cada vez mais fluidos em nossa geração: será que consumir conteúdos adultos pode ser caracterizado como um ato de traição?
Para alguns especialistas, essa questão não é simples de responder. Segundo pesquisas, o Brasil ocupa uma posição de destaque no consumo de pornografia na internet. De acordo com um panorama de audiência realizada em 2021 pelo site Pornhub, uma das maiores plataformas de pornografia digital gratuita, nosso país foi classificado como o 11º país com o maior número de acessos a conteúdos pornográficos.
A situação fica ainda mais complexa quando analisamos o aumento de consumo durante uma manobra da plataforma ao oferecer aos seus “espectadores” um acesso gratuito a conteúdos adultos de forma premium por um mês. O resultado chegou a um aumento de pelo menos 39,2%.
Mas o que explica o interesse tão elevado da população por conteúdos que podem objetificar e prejudicar a situação afetuosa dos relacionamentos? Conversamos com a terapeuta sexual Tarama Zanoteli para entender os motivos que envolvem o tema:
Afinal, é traição ou não é?
De acordo com Tamara, o consumo de pornografia pode ser considerado sim um ato de traição quando, em um relacionamento, esse tipo de comportamento prejudica a dinâmica sexual, emocional e interativa do casal.
“Para alguns casais, o consumo de pornô pode ser considerado como uma forma de expressão de prazer individual, enquanto para outros, esse tipo de prática pode significar uma quebra de confiança, especialmente se não for algo discutido em quatro paredes”, explica a especialista em educação sexual pelo Instituto CTSex.
“De qualquer forma, é comprovado cientificamente que assistir e interagir com dinâmicas pornográficas distorcem a nossa imagem e as expectativas do que poderia ser o prazer, a dois ou individualmente, e isso pode ser a causa por trás de estados de infelicidade para o casal e para a pessoa que curte sentir prazer com esses conteúdos”, explica.
Além disso, Tamara esclarece que mesmo diante de um consumo diretamente ligado à conscientização, o que pode dificultar ainda mais a interação afetiva em um relacionamento é o entendimento sobre o que é traição ou não.
“Traição não envolve necessariamente apenas o ato físico de estar com outra pessoa, mas também o envolvimento emocional ou sexual fora da relação, o que pode incluir interações online, como chat de pornografia e até mesmo lives adultas”, pontua.
Como resolver?
Tentar explicar o alto consumo de conteúdos pornográficos entre jovens adultos brasileiros, para alguns, parece simples de se caracterizar: falta de confiança sexual, curiosidade, inexperiência e por aí vai.
Mas o que ninguém conta, ou pelo menos, a maioria das pessoas não compreendem é que durante o ato de consumo de pornografia esquecemos de uma prática tão necessária quanto o entendimento de traição: a educação sexual.
“O ponto central é a comunicação clara sobre as preferências. É preciso discutir abertamente as expectativas, preocupações e limites em uma relação. Isso pode ajudar a evitar mal-entendidos que criam diversas dores de cabeça e discussões”, afirma Zanoteli.
“Criar um canal aberto e seguro para falar sobre as preferências sexuais e os sentimentos tornam-se ainda mais importantes do que criar caminhos para evitar uma traição. Só assim é possível criar a confiança e a abertura de intimidade necessária para revelar ao parceiro o posicionamento sobre o consumo de pornô”, aconselha.
E você, já sentiu que a pornografia incomodou ou incomoda o seu relacionamento? A verdade é que compreender o seu posicionamento em relação ao inaceitável na relação poderá te salvar de frustrações que, certamente, ninguém gostaria de experimentar.
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