Viver sem necessidade, desejo ou interesse em sexo é realidade de pessoas conhecidas como assexuais. “Isso não causa qualquer desconforto ou sofrimento”, pontua a psiquiatra Carmita Abdo, coordenadora do Programa de Estudo da Sexualidade (ProSex), do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de USP.
“Não existe um grupo homogêneo sobre esse tema, mas há pessoas que são absolutamente desinteressadas, nunca precisam ou necessitam, e existem aquelas que eventualmente, mas raramente, querem ter um encontro amoroso ou erótico, com ou sem sexo”, disse.
Segundo a médica, que recentemente lançou o livro Sexo no cotidiano: atração, sedução, encontro, intimidade (Ed. Contexto), no Brasil, 7,5% das mulheres e 2,5% dos homens não têm menor interesse por sexo. Esse foi resultado de pesquisa do ProSex de 2016.
Ela ressalta que a assexualidade não é uma patologia, e é diferente, por exemplo, da disfunção sexual. “Quando estamos diante de pessoas que não fazem sexo, têm menos interesse e por isso sofrem, nós estamos diante de outro tipo de questão, é uma condição chamada desejo sexual hipoativo”, disse. “Por que é uma disfunção nesse caso, e não no outro? Porque aqui existe desconforto, sofrimento, incômodo”.
Por outro lado, o assexual encara o sexo como uma atividade sem importância. Ela não sente falta ou busca mudar a sua condição.
“Ela não está em nenhum momento da vida dela pensando em mudar isso ou desconfortável, e também nem nós vamos patologizar, porque ela tem libido, mas não está ligada ao sexo”, disse. “Todos nós, para estarmos vivos precisamos de libido, é uma força essencial que nos mantêm acordados, dispostos, na ativa. Você pode projetar essa energia para o sexo, mas também para outras atividades, uma carreira, missão, um projeto de vida”.
Em casos em que assexuais se relacionam com pessoas que possuem interesse sexual, o importante é chegar a um consenso. A psiquiatra elenca, entre alternativas comuns, abrir a relação para sexo com outros, por exemplo. Há ainda quem opta por abrir mão do sexo totalmente, em comum acordo.
“O sexualizado se resigna. Não necessariamente ele consegue levar isso avante anos a fio, porém existe uma proposta que ele faz naquele momento”, disse. “Há ainda casos onde tem sexo na medida de possibilidade de ambos, mas é claro que a frequência vai ser determinada mais pelo assexual do que pelo outro”.